15 de janeiro de 2014

"FOI A SITUAÇÃO MAIS CHOCANTE QUE PRESENCIEI", AFIRMA FOTÓGRAFO QUE REGISTROU MULHER SENDO ATINGIDA POR RAIO

Os 22 anos de profissão e a experiência de quem cobriu grandes tragédias não diminuíram o impacto que o fotógrafo Rogério Soares sentiu ao ver e registrar uma mulher morrer após ser atingida por um raio na tarde de segunda-feira, em Guarujá, no litoral paulista. Ainda surpreso com a repercussão que seu trabalho ganhou, Soares, 40 anos, conversou com Zero Hora no início da noite desta terça-feira:
— Foi absurda a repercussão hoje. Nem eu imaginava.
A sequência de imagens que o fotojornalista fez iniciou com a família se divertindo e terminou com a mulher de 36 anos sendo socorrida após descarga elétrica. Soares trabalha na sucursal de Guarujá do jornal A Tribuna, veículo no qual está há 13 anos. Confira a entrevista concedida por telefone.
Zero Hora — O que você fazia no momento do acidente?
Rogério Soares — Sempre acompanho a movimentação na praia no mês de janeiro. Fazia fotos da praia e do movimento de turistas. Aí, começou uma mudança brusca no tempo. Apareceram nuvens negras, estava se formando uma tempestade. Começou a chover forte, fui para o carro, mas continuei na orla. Estava fotografando as pessoas na chuva, os turistas. E o que me chamou atenção nesta família é que eles estavam com o carro na areia, então parei para fotografar as crianças brincando, a mulher com os filhos. Estava fazendo a sequência. Neste momento, a mulher entrou na água. Do tempo que ela entrou na água, foram cinco segundos até ser atingida pelo raio.
ZH — Você viu o momento em que ela foi atingida? 
Soares — Eu estava fotografando na direção dela. Eu acompanhei ela entrando e ouvi um barulho muito forte, uma explosão, vi uma luz. Achei que o raio tinha caído no carro. Em um primeiro momento, não vi que tinha atingido ela. Depois, enxerguei a movimentação das pessoas tirando ela e falei: "meu Deus, a moça que eu estava fotografando foi atingida".
ZH — Essa explosão foi muito rápida?
Soares — Foi muito rápida, durou segundos. Tanto que eu não tive a noção de onde tinha caído o raio. Eu estava com a câmera apontada para eles, fotografando eles brincando, a mulher entrando na água. Depois, olhando na câmera, vi que tinha feito inclusive o raio. Não sabia que ela tinha sido atingida. Só quando as pessoas tiraram ela da água que eu fui ver que o caso foi grave. Ficaram uns dois minutos na areia fazendo massagem cardíaca nela.
ZH — E a reação dos familiares? Eles perceberam na hora que ela tinha sido atingida?
Soares — Foi desespero total, as pessoas começaram a correr, chamar alguém para ajudar. Continuava caindo raios. Resolveram tirar ela da areia, colocaram na pick-up e levaram para o posto dos bombeiros mais próximo. Infelizmente, não conseguiram reanimá-la, e ela chegou morta.
ZH — Durante sua carreira, já havia passado por situação semelhante?
Soares — Eu já acompanhei tragédias, cobri aquela na região serrana do Rio, onde milhares de pessoas morreram. Mas, desta vez, eu presenciei um pouco da alegria daquela família. Acompanhei a pessoa viva e, de repente, em cinco segundos, estava retratando a mulher morta. Acho que foi a situação mais chocante que, em 22 anos de fotojornalista, presenciei. Era apenas mais uma matéria de praia, começou a virar o tempo e deu no que deu.
FONTE: ZERO HORA