A Arena do Grêmio é uma realidade plena, como tivemos
chance de ver na festa espetacular de inauguração, seguida pelo jogo contra o
Hamburgo. É o primeiro novo e grande estádio desse século, dando uma amostra do
que está por vir. É, também, a primeira arena de fato multiuso, já concebida
com tal propósito. Entretanto, em relação à pergunta que intitula a reportagem,
só teremos uma resposta convincente dentro de uns quatro ou cinco anos, pelo
menos, a contar desse sábado, quando a Arena Grêmio foi inaugurada. Nos anos 70 tivemos uma safra de estádios, cuja
importância para o nosso futebol foi nula. Muito dinheiro foi, literalmente,
jogado fora, sem trazer retorno, em nome de outro evento que se pretendia mega
e não passou de um fiasco: a comemoração do Sesquicentenário da Independencia,
criada pelo regime militar. Elefantes brancos tornaram-se cinzentos e
degradados, sem uso e sem significado para a vida das cidades onde foram construídos.
Nenhuma nova era começou, muito pelo contrário, pode-se dizer. Hoje, felizmente, o país e o mundo são infinitamente
diferentes, mas nada garante que a nova safra de estádios represente, por si
só, a chegada de novos e melhores tempos ao nosso futebol, até porque algumas
dessas novas praças esportivas, hoje como ontem, estão em locais onde o futebol
real está mais para ficção do que para realidade. Para o Grêmio, entretanto, a Arena é sim o anúncio de
uma nova era. Já no próximo ano teremos uma boa ideia do significado do estádio
para o clube, em especial para suas contas, mesmo considerando que uma parte
das receitas – 35% – será destinada ao pagamento da construtora responsável
pela obra. Os relatos dos torcedores e jornalistas que lá
estiveram são animadores, mais ainda que as imagens do estádio e suas
instalações. A Arena é confortável, o acesso foi tranquilo e a impressão
geral foi muito positiva.A Arena chega em bom momento para o Grêmio, que já
contando com ela e a receita ampliada dos direitos de transmissão, alavancou
consideravelmente os gastos com o elenco em 2012. Tudo indica que 2013 será um bom ano para o clube,
como já foi 2012, ainda mais com o retorno à disputa da Copa Libertadores. A
boa performance no gramado associada ao apelo da nova arena deverá elevar
consideravelmente o público médio dos jogos do Grêmio, em três diferentes
áreas: incremento no número de sócios, aumento na receita com os ingressos jogo
a jogo e, finalmente, e fundamental nas previsões do clube, a consolidação da
receita com os camarotes, estimada, somente ela, em 20 milhões de reais no
primeiro ano – dos quais 13 ficarão com o clube. Essa receita poderá ser bem
engordada com a assinatura de um acordo de naming rights da Arena, algo
possível, sem dúvida, mas de difícil execução. Da mesma forma, as demais receitas geradas pela Arena
serão divididas na base de 35% para a construtora e 65% para o Grêmio, no
período de vinte anos, calculados e distribuídos depois de cobertas as despesas
diversas do estádio. Além dessa receita variável, o Grêmio receberá 7 milhões
de reais por ano durante a vigência do financiamento da obra – 45% do valor
original foi financiado pelo BNDES – e 14 milhões após o término do pagamento
ao banco oficial. Os valores fixos serão reajustados, naturalmente. Por fim, o clube estima que receberá 32 milhões por
ano com a entrada em operação da Arena, valor extremamente apreciável e que
dará um novo status financeiro ao Grêmio. Apenas para exemplificar, esse valor
de 32 milhões de reais equivale, sozinho, a 24% da receita operacional total de
2011 (sem transferência de atletas). A importância da receita com estádio é muito grande,
como já foi destacado em vários posts desse OCE nos últimos anos e também foi
ressaltada pelos especialistas do Itaú BBA na análise do São Paulo: além de
contribuir com 18% da receita do clube, o resultado do Morumbi possibilitou uma
excelente diversificação nas fontes de receita e na participação de cada uma no
resultado geral. O mesmo deverá ocorrer com o Grêmio a partir de 2013, com as
receitas da Arena ajudando a compor um quadro de receitas melhor distribuído e,
portanto, mais estável. Lembrando que ao faturamento dos jogos de futebol
somar-se-á a renda proveniente de shows, por exemplo, justificando o caráter
multiuso da Arena. Embora não tão grande quanto o aluguel dos camarotes,
a receita com royalties e participações nos resultados de restaurantes,
lanchonetes e lojas também deverá crescer. Ir a um evento em local confortável
e com boa oferta de serviços conduz o espectador/consumidor/torcedor a gastar
sempre um pouco mais. Um jogo poderá, doravante, ser muito mais que isso e
ganhar a conotação de um evento, maior ou menor, é claro, conforme a
importância da partida, foco primeiro e último de toda ida a um estádio. O
torcedor poderá comportar-se como consumidor, tal como se comporta ao entrar
num shopping. Isso significa que sua ida à Arena não precisará ficar restrita à
partida em si e a cada ação desse cidadão como consumidor, uma nova receita
será agregada ao ingresso. Talvez o Grêmio já possa, em 2014, mostrar o balanço
2013 com um item novo na relação de receitas: Matchday. Estádio para isso já
existe. (Texto de: Emerson Gonçalves).